segunda-feira, 13 de setembro de 2010

RESENHA CRITICA (Teoria Walloniana)

RESENHA CRITICA (Teoria Walloniana)
       Noly Oliveira[1]
       A coletânea Henri Wallon: Psicologia e Educação organizado por Abigail Alvarenga Maholey e Laurinda Ramalho de Almeida aborda a compreensão e descobertas quanto à Teoria dos Estágios do Desenvolvimento Humano do supracitado autor é importante para que educadores tenham compreensão do que ocorre em sala de aula e possam atuar com responsabilidade e competência.
       Na introdução Abigail Alvarenga Maholey descreve os motivos que levou a construção desta obra e traça rápida biografia de Wallon, destacando o interesse deste pela educação por entrever seu enriquecimento através da psicologia inter-relacionada aos conhecimentos da biologia e sociologia.
       Wallon era francês, viveu entre 1879 e 1962, e obteve forte formação em filosofia, medicina e psiquiatria, áreas que iriam influenciar seu interesse por psicologia. Vivenciou duas Guerras Mundiais: participou na primeira e como médico observou lesões orgânicas e seus reflexos sobre processos psíquicos; na segunda atuou no movimento da Resistência contra os invasores nazistas, fator que fortaleceu sua crença na necessidade da escola assumir valores que reforçassem a construção de uma sociedade justa e democrática. Das  obras voltadas para a educação elaborou, junto ao físico Langevin e outros colaboradores, o Projeto Langevin-Wallon cujo objetivo era reformar o sistema educacional francês.
       Wallon dedicou-se primeiro a psicopatologia. Seus estudos sobre perturbações de comportamentos em crianças de 2 a 15 anos internadas em serviços psiquiátricos lhe rendeu livro oriundo da tese de doutorado denominado L’Enfant Tubulent. Depois a obra passou por uma revisão e comparou depois estas analises aos estudos construídos a partir das observações de soldados feridos na primeira Guerra Mundial concentrando-se no processo de desenvolvimento da criança para explorar as origens biológicas da consciência.
       A Teoria do Desenvolvimento de Wallon surgiu ao comparar semelhanças e diferenças entre o desenvolvimento de crianças normais e patológicas, entre crianças e adultos onde identificou precipícios reguladores e vários estágios desse processo. Maholey alerta que para compreendermos Wallon não podemos nos prender ao raciocínio dicotômico, vez que todas as fases e períodos estão inter-relacionadas e o desenvolvimento dar-se-á por rupturas.
       No texto Estágio Impulsivo Emocional, Capítulo I, as autoras Márcia Pires Duarte e Maria Lúcia C. R. Gulassa abordam o primeiro estágio da teoria walloniana que compreende o período de 0 a 1 ano de idade e contém duas etapas: da impulsividade motora e emocional.
       Evidenciam que Wallon ressalta a relação de dependência criança/meio-externo (adulto) neste período, constituindo a comunicação recíproca cuja construção de significados dar-se-á de modo comum e paulatina para ambos – a vivencia sincrético-social antecede a formação da consciência de si através dos complexos exercícios de relação e interação, numa relação dialética, o eu e o outro internalizados serão parceiros construtivos da via psíquica, sendo ele autor e objeto da ação –, fase de predominância afetiva e centrípeta (volta-se para dentro de si, interioridade).
       Na primeira etapa denominada impulsividade motora (de 0 a 3 meses) há predomínio da movimentação reflexiva, impulsos descontínuos provocados por tensão – seja de origem interna ou externa – pelo não pronto atendimento de sua necessidades repercutindo tal ação no meio e leva o adulto a busca de ler sua necessidades.
       Dentre as fases dessa etapa destacam-se: as sensibilidades interoceptivas (reuni sinais dos órgãos internos, pois as terminações sensitivas se localizam nas viserais), proprioceptivas (apresenta impressões musculares caracterizada pela relação ao movimento e equilíbrio do corpo no espaço, comandadas pelas terminações sensitivas do aparelho muscular, tendões e articulações que reagem aos estímulos intero e proprioceptivos) e exteroceptiva (ligada à afetividade, esta relacionada ao conhecimento do mundo exterior); a simbiose fisiológica (total indiferenciação entre as diversas necessidades fisiológicas e as diferentes formas de satisfazê-las) e afetiva (período inicial do psiquismo estabelece o ser humano como mediador entre o fator fisiológico e o social e o circuito simbiótico associado à maturação da fase anterior); o movimento – é o mais destacado por Wallon por ser uma das principais formas de comunicação da vida psíquica do bebê com o ambiente externo - se apresenta de três formas: movimento de equilíbrio (reação de compensação e reajustamento dos corpos sujeito a gravidade – deitado, sentado e de pé – que gera conquista do espaço e mudança de comportamento); movimentos de preensão e de locomoção (deslocamentos de corpo e dos objetos no espaço, dominando este último e  compreendendo a si mesma); e reações posturais (entendido como resultado da atividade muscular que pode ser percebido sob os aspectos  distintos e complementares, clônico - músculos de alongamento e acolhimento - e o tônico  - atitudes e posturas - deslocamento dos segmentos corporais que permitirão atitudes expressivas e mímicas ). Ao final desta primeira fase já perceber-se em transito a fase emocional.
       Na segunda etapa –– nomeada de emocional – caracteriza pelas transformações das descargas motoras em meio de expressão e comunicação do bebê com o adulto que passam a ser graduadas e identificadas com ausência de instrumentais cognitivos, culminando na primeira forma de sociabilidade, via experiência de trocas e estímulos externos, e inicio da vida psíquica ao elaborarem as primeiras imagens mentais, marcas individuais, diversificar e concretizar suas atitudes, aguçar e antecipar situações transformando estes sinais em sinais de cognição.
       É importante nessa etapa a relação direta existente entre emoção e tônus, passíveis de interpretação graças ao grau da função tônica e o seu suporte á manifestação da emoção, ambos complementares. As atividades circulares (de repetição) ocorrem aos cinco meses movimentos inicialmente causais, repetidos intencionalmente pela criança que ira investigar as possibilidades diante da variação de movimentos decorrentes do nível de evolução – de atos impulsivos, movimentos intencionais fazendo uso da associação dos campos sensoriais e musculares, graças à maturação do córtex cerebral, através da exploração e progressos na percepção, manipulação/preensão e constituição da linguagem (este resultante dos campos sensoriais auditivos e vocal). Em suma é importante instrumento de aprendizagem em diferentes áreas iniciando-se neste o estágio seguinte, o sensório-motor, onde o interesse deixara de ser centrípeta para ser centrífuga.
       A passagem do estágio impulsivo emocional para o estágio sensório-motor e projetivo ocorre à passagem da presença da subjetividade afetiva e construção de si ao identificar e explorar objetivamente seu próprio corpo adquirindo conhecimento sensório-motor corporal que resulta maior exploração do mundo exterior.
       No texto Estágio Sensório-Motor Projetivo Lúcia Helena F. Mendonça Costa dedica-se, no Capítulo 2, a analisar tal estágio compreendido entre crianças com 1 a 3 anos de idade. Inicia ressaltando os meandros entre estes dois primeiros estágios da teoria walloniana. Cita as conquistas das crianças (primeira parte desse estágio) auferidas pelas marcha e linguagem possibilitando o desenvolvimento da inteligência das situações, permitindo transparecer a busca por independência e exploração investigativa espacial ao seu redor.
       Tal fato propício à segunda parte desse estágio: a etapa projetiva - particularizada pela forma do funcionamento mental das crianças que redimensiona a percepção dos objetos e do mundo a partir da ação motora – que possui dois movimentos corroboradores nas expressividades da atividade mental denominados de imitação (participação e desdobramento do ato induzido por modelo exterior; recurso simbólico que prepara para a representação) e simulacro (caracteriza-se pelo exercício ideo-motor, ou seja, pensamento apoiado em gestos). Através da linguagem a criança poderá revelar elaboração das imagens e dos símbolos expressando sua atividade mental, ou seja, a função simbólica ganha espaço.
       É importante sublinhar que as autoras supracitadas não se detém quanto ao significado da relação imagem e esquema corporal, elementos de grande importância dentro da teoria em estudo. Vale expor que para Wallon a noção de corpo sofre transformações através do processo de amadurecimento neurofisiológico da criança. A formação da imagem especular se dá quando o eu exteroceptivo fornecido pelo espelho vem juntar ao eu proprioceptivo, num processo tônico-postural, ou seja, apreende sua imagem como representação em comparação a imagem do outro. Por fim, a descoberta do seu eu favorece ao desenvolvimento do seu esquema corporal que é concebido como as diversas sensações que são gradualmente organizadas e experimentadas desde o nascimento. [2] Logo, os conceitos imagem, corpo e esquema corporal estão presentes na teoria em analise e lhe dão sustentabilidade.
       Os textos interpretativos da teoria walloniana analisados trazem tais conceitos bem intricados e intercalados. Não são discutidos em separado, mas notados em seu conjunto com as ações correspondentes do estágio em desenvolvimento.
A todo instante Wallon aborda tais conceitos ao descrever:
  • No primeiro estágio, na etapa impulsividade motora, as sensibilidades intero-proprio-exteroceptiva, a simbiose fisiológica e afetiva, o movimento (em suas três formas: movimento de equilíbrio, movimentos de preensão e de locomoção e reações posturais), na etapa emocional, quando a criança começa a buscar no outro o referencial, a comunicar-se de modo mais enfático dando os primeiros passos a sua individualidade, a agir investigativamente com seu corpo adquirindo conhecimento sensório-motor corporal;
  •  No segundo estágio a marcha e linguagem são caracteres projetivos para o desenvolvimento da inteligência situacional, que lhe permitira maior independência e exploração investigativa espacial ampliando seu campo de ação através da etapa projetiva – imitação e simulacro – e ressalta a importância da linguagem como meio de elaboração das imagens e dos símbolos, tal situação permite uma representação gráfica da imagem de si e conseqüentemente o gradual conhecimento de como funciona o corpo via experimentação.
       Torna-se, portanto, expressa a importância do estudo acerca da Teoria dos Estágios do Desenvolvimento Humano de Henri Wallon para a formação de educadores como alternativa de ampliar e aplicar os conhecimentos adquiridos expondo-os em sala de aula, obtendo melhores resultados em suas intervenções junto aos educandos.










REFERÊNCIA

COSTA, Lúcia Helena F. Mendonça. Estágio Sensório-Motor Projetivo. In: Henri Wallon: Psicologia e Educação, s/d, Edições Loyola.
DUARTE, Márcia Pires e GULASSA, Maria Lúcia C. R. Estágio Impulsivo Emocional In: Psicomotricidade: Educação e Re-educação.
MAHOLEY, Abigail Alvarenga e ALMEIDA, Laurinda Ramalho de (Orgs). Henri Wallon: Psicologia e Educação, s/d, Edições Loyola.
OLIVEIRA, Gisele de Campos. Desenvolvimento da Psicomotricidade. In: Psicomotricidade: Educação e Re-educação.  Petrópolis, RJ: Vozes, 1


[1] Educadora Social, Historiadora, Especialista em História e Cultura Afro-brasileira, Consultora em Metodologia Cientifica e Coord. de Turma PSCL. E-mail: noly.oliveira@gmail.com
[2] Ver em OLIVEIRA, Gisele de Campos. Desenvolvimento da Psicomotricidade. In: Psicomotricidade: Educação e Re-educação. ed. 10. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. pp.  54-55.


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