segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Romance Social: Lima Barreto - de Alfredo Bosi

O Romance Social: Lima Barreto
Noly Oliveira[1]

            As reflexões de Alfredo Bosi, em O Romance Social: Lima Barreto afirma que a biografia de Lima Barreto basta para explicar o contexto ideológico contido em sua obra cuja característica é sua contradição explicada por ser suburbano classe média (existindo um conservadorismo sentimental) e mulato enfermo (discrimação e preconceito).
            Segundo o autor, existe uma duplicidade de planos (narrativo e crítico) tanto no âmbito ideológico quanto estilístico de modo consciente e polêmico. Contrapondo seu estilo de escrever e pensar com o de Coelho Neto e de Rui Barbosa e aproximando-o de Marques Rabelo e Èrico Veríssimo para fazer valer reconhecer a sua modernidade estilística. Embora escolhesse e elaborasse realidades sócias o produto, na obra, era realista e intencional pautando-se na crônica.
            Para desnudar tal fato, o autor aqui faz uma pequena abordagem das obras limabarretianas.
            Em Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Barreto encarnado em Isaías, oscila, de modo constante, seus sentimentos sempre de modo bipolar (ora rebelde, ora vencido), revelando a frustração do autor e a relação objeto / sujeito, observação social / ressonância afetiva, o que define para Bosi o estudo realista-memorialista de romancista em questão.
            Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance de terceira pessoa cuja personagem foge ao tipo pré-formado e a projeções das amarguras pessoais. Somente o Major Quaresma diferencia-se dos burocratas e militares reformados por possuir entusiasmo ingênuo e um não conformismo. Como afirma Oliveira Lima, Policarpo possui algo de quixotesco que fora devidamente explorado (conformando o lado hilário com o melancólico) pela prosa de Barreto.
            O autor não adentra na discussão sobre o desleixo da linguagem pautada na questão estético-social, entrever, na obra, o dialético e o desencontro – visto como constante social-psíquica que desvela as defasagens lingüísticas tão rigidamente cobradas no Pré-Modernismo.
            Em Numa e Ninfa, caracteriza-se a sátira política, os personagens de tendência caricatural revelador do caráter deturpado de Numa Pompílio de Castro e a caracterização de certos tipos secundários.
As mazelas da vida brasileira reaparece entrelaçada a uma curiosa síntese documental apresentado antes do Modernismo na obra Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá. Este um espectador interessado e cético do que ocorre na sociedade carioca dos princípios do século revelador de uma consciência polêmica que reflete o próprio autor. Aproxima-se de Monteiro Lobato em função da crítica geral, antipassadista - divergindo quanto ao estilo vez que este prende-se a modelos acadêmicos – e de Machado de Assis ao adotar a linguagem do “mas”, do “talvez”, do ‘embora” tão freqüentes nas obras deste.
O núcleo de Clara dos Anjos, obra contemporânea a Recordações do Escrivão Isaías Caminha e inacabada, gravita em torno da pobreza e do preconceito racial, recheados de recortes sobre a vida suburbana, ironia e piedade.
A obra Cemitério dos Vivos são memórias e reflexões vivenciadas pelo autor que observou in loco a rotina diária de um manicômio. Ela esta dividida em duas partes: o diário onde relata sua estadia no Casarão da Praia Vermelha e o romance propriamente dito, numa profusão de tragédia doméstica com fragmentos memorialistas. O autor compara-o, pela veracidade e força do documento humano e pelo desejo de redenção pela dor descrito, a antologia situacional as Recordações da Casa dos Mortos de Dostoievski. Ao cita também as observações construídas por Coelho Neto, Oscar Wilde, Nietzsche e a poesia de Dannunziana, revela sua propulsão frente à época.
Ao utilizar em Os Brazudangas, o expediente semelhante adotado por Montesquieu em Cartas Persas revela para além do forte teor satírico e ideológico, apresenta o quanto Barreto podia e sabia sobrepor-se as frustrações e construir crítica objetiva ao modo como definia-se a estrutura brasileira da época.
Bosi conclui por definir a obra limabarretiana como carregada de desdobramento do Realismo no contexto novo da Primeira Guerra Mundial e das primeiras crises da República Velha.

REFERÊNCIA
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. Cultrix: São Paulo, pp. 316 – 324.


[1] Educadora Social, Historiadora, Especialista em História e Cultura Afro-brasileira, Consultora em Metodologia Cientifica e Coord. de Turma PSCL. E-mail: noly.oliveira@gmail.com

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