domingo, 12 de setembro de 2010

Avaliação e o processo de ensino aprendizagem


A AVALIAÇÃO COMO PARTE INTEGRANTE DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM[*]
Por: Noliene Oliveira[†]

          Avaliar é muito mais do que medir. Avaliar envolve sempre, a partir dos dados observados, um juízo de quem avalia, influenciado por sua subjetividade. A avaliação do ensino e aprendizagem é um processo cumulativo, contínuo, abrangente, sistemático e flexível de obtenção e julgamento de informações de natureza qualitativa e quantitativa sobre o ensino e a aprendizagem, de forma a obter subsídios para: Planejar as intervenções docentes; Criar formas de apoio aos alunos que apresentem dificuldades; Verificar se os objetivos propostos estão sendo alcançados; Obter subsídios para a revisão dos materiais e da metodologia aplicada.
          Para alcançarmos tal objetivo, se faz necessário considerarmos tais subsídios como norteadores de uma proposta de avaliação que se rompa com o esteréotipo da avaliação que reprova, pune e exclui. No entanto, o avanço nessa direção só será possível se a avaliação for compreendida na sua inter-relação com o processo educativo do qual é parte integrante.
          O desempenho dos alunos, quase sempre, é expresso nos registros de observações feitas pelos professores, nos trabalhos realizados, nas respostas das atividades elaboradas para checar a aprendizagem, nos resultados de provas realizadas. A análise e interpretação desses dados – a avaliação – é permeada por uma questão bastante polêmica: a dicotomia aprovação/reprovação dos alunos. Entretanto mais importante que polemizar, é desenhar o trabalho pedagógico que deve ser desenvolvido, evitando tanto a reprovação quanto a promoção automática.
          A reprovação, entendida como indicativo de que o aluno não domina o saber, as habilidades e as competências esperadas no programa, pode ter várias conseqüências negativas, como a evasão, o abandono da oportunidade de escolarização e a diminuição da auto-estima, que geralmente é baixa. A promoção automática, no entanto, é tão perversa quanto a reprovação, pois deixa o estudante passar pela escola sem aprender o necessário para exercer efetivamente sua cidadania. Assim, ambas – a reprovação e a promoção automática – contribuem para a exclusão dos alunos.
          No Salvador Cidade das Letras, os alfabetizadores e os alfabetizando devem buscar a aprovação a partir de um trabalho conjunto utilizando todos os momentos para promover o desenvolvimento dos objetivos educacionais previstos no Programa. Além disso, a redução ou eliminação da reprovação não pode ser entendida como afrouxamento do processo de avaliação. Ao contrario, esta deve ser sistemática e continua.
          Quando se inicia qualquer trabalho de avaliação de desempenho devemos responder às já conhecidas perguntas: Avaliar para quê? Avaliar o quê? Avaliar quando? Quem deve ser avaliado? Quem deve avaliar? Tais questões reforçam a idéia de avaliação de desempenho como um processo intencional e sistemático de obtenção e análise de informações sobre o processo de ensino e aprendizagem, e buscam em si mesmas os elementos que possibilitem uma intervenção consciente, na perspectiva de alcançar os objetivos do ensino e os fins da educação.
          Na perspectiva que se coloca o Programa, é importante lembrar que a avaliação antecede, acompanha e sucede o trabalho pedagógico. Portanto, necessitamos de modalidades diferentes, conforme o momento em que ela é demandada ou realizada. As modalidades correspondentes a cada um desses momentos – diagnóstica, formativa e somativa – possuem funções diferentes, mas complementares. Caracterizar cada uma delas significa compreender o sentido de cada uma para melhor perceber sua inter-relação.
          A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA é sempre lembrada com aquela que acontece antes, na fase inicial de um trabalho com a função básica de obter informações sobre os sujeitos que serão envolvidos no processo de ensino e aprendizagem e sobre o contexto em que a ação pedagógica será desenvolvida, possibilitando a definição ou redefinição dos objetivos do trabalho e do caminho a ser percorrido para alcançá-los. Entretanto, ela não é importante apenas na fase inicial de um trabalho, mais também ao longo de todo o seu desenvolvimento, pois ajuda na compreensão dos resultados que vão sendo obtidos, sejam positivos ou negativos, oferecendo subsídios para as intervenções que se fizerem necessárias.
          A AVALIAÇÃO FORMATIVA acontece ao longo do processo, com características bastante singulares, como o seu próprio nome diz, tem natureza formadora, pois sua função é identificar os avanços da aprendizagem e os pontos em que existem barreiras para esses avanços, além de contribuir para melhorar, orientar, regular a ação didática. Assim ela é muito mais que verificação de desempenho: é uma reflexão constante sobre os resultados que evidencia, potencializada pela interação das avaliações formativa e diagnóstica. Tal avaliação requer que o alfabetizador utilize procedimentos formais e informais para a obtenção de informações (a exemplo da auto-avaliação do aluno, possibilitando a conscientização de seus avanços e dificuldades, transformando-o no ator principal da aprendizagem ao conferir-lhe autonomia e responsabilidade na condução de seu percurso, com a ajuda do professor.
          A AVALIAÇÃO SOMÁTIVA é a avaliação final. Não se deve ter medo de falar em avaliação final, de falar em produto, pois como a aprendizagem é um processo que tem caráter cumulativo, ela admite produtos parciais e finais. Assim, tal avaliação nos dá a dimensão sintética do significado e da relevância do trabalho realizado, e não deve ser tomada como classificação, aprovação ou reprovação, como em geral tal modalidade esta associada.
          A articulação das três modalidades – diagnóstica, formativa e somativa – assegura a integração da avaliação no processo de ensino e aprendizagem. No Brasil Alfabetizado, o educador e os educandos tem a incumbência de promover essa integração da avaliação, tendo em vista a aprendizagem afetiva.
          A avaliação compreende três etapas principais: o planejamento de objetivos e atividade; a realização das atividades; a verificação dos resultados alcançados, sendo em todas as etapas fundamental a presença dos alunos.
          Entre os instrumentos de avaliação, podemos citar: os testes objetivos (falso-verdadeiro, múltipla escolha, complemento ou lacunas, acasalamento), as provas orais, as dissertações e os trabalhos livres. Na interpretação dos resultados, devem ser considerados alguns pontos importantes: toda avaliação deve ter como critério o aluno que esta sendo avaliado; a comparação entre um aluno e outro é prejudicial; deve aumentar a confiança do aluno; pode contribuir para que o professor modifique seu sistema de trabalho; as notas não devem ser supervalorizadas.
          Atentamos para o fato de que em geral, nos programas que atendem à clientela socialmente desfavorecida, tanto o ensino como a avaliação ajustam-se às características dessa clientela, e permitem assim a promoção de uma série a outra, criando a ilusão do sucesso escolar, ilusão que é desmistificada quando o estudante submete-se a mecanismos de seleção fora da escola que o aprovou ou quando, na vida profissional, fracassa na competição com os que provêm das escolas que servem às classes privilegiadas. Não é esse o nosso objetivo.       


[*]Educadora Social, Historiadora, Especialista em História e Cultura Afro-brasileira, Consultora em Metodologia Cientifica e Coord. de Turma PSCL. E-mail: noly.oliveira@gmail.com
[†]Texto adaptado do Manual do Educador e Psicologia Educacional de Nelson Piletti.

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