segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Carta pras Icamiabas, de Maria Augusta Fonseca


A Carta pras Icamiabas, de Maria Augusta Fonseca
Noly Oliveira

       A autora Maria Augusta Fonseca trata no tópico Cantos e Encantos da Língua, presente no ensaio A Carta pras Icamiabas, pautado no capìtulo IX do livro Macunaíma: o herói sem nenhum caráter de Mário de Andrade, faz uma analisa onde recorre a outras obras do próprio Mário de Andrade, a Carta de Pero Vaz Caminha, a Manoel Bandeira, Pedro de Magalhães Gândavo, Manoel Botelho, Camões, padre Anchieta, Guilda Melo de Souza dentre outros para explicitar o porquê da importância da linguagem como elemento construtor e de resignificação de identidade.
       Expõe uma série de hipóteses interpretativas sobre tal fato, a começar pelo conhecimento superficial desta nova língua (europeizada), utilizada como elemento de discussão do processo de aculturação, notada no perfil sério-cômico contido na carta limitado espaço-temporalmente tal como a Carta de Caminha – a carta foi escrita no dia 30 de maio de 1926, num dia de domingo-, na esteriotipização da indolência do índio e do negro, as múltiplas intenções que possui visto que a mesma é uma verdadeira gênese do fazer artístico Mário de Andrade, pois transcende as questões mais evidentes a exemplo de construir, pura e simplesmente, uma rapsódia e uma sátira.
       Relata que o autor Mário de Andrade assinala para o caráter encantador das palavras daí buscar ecos nos relatos dos cronistas para afirmar que o povo inculto a domina muito limitadamente via monotonia sonora, elemento que aglutina som a palavra. A autora observa que Mário de Andrade descreve este capítulo como “intermezzo” do livro, notável por haver milhares de intenções e interpretações. Por esse motivo, Fonseca resolveu explorá-lo um pouco mais, objetivando retirar o máximo de informações confrontando com diversas outras obras, que possibilite melhor entendimento da carta, alvo de crìticas e elogios desde 1927.
                   Macunaíma percebe que um dos elementos para alcançar o poder é o domínio da língua culta e resolve empenhar-se para consegui-la. A carta escrita para as icamiabas, possui um código lingüístico que elas desconhecem e não dominam, serve como fonte para que imponha respeito e poder sobre as mesmas. Neste aspecto revela também a carta que o processo de assimilação da cultura européia não foi suficiente para que desprovesse de todo o seu arcabouço cultural, transparecendo uma hibridação de culturas dada a miscigenação etnolingüística. Outro recurso utilizado muito sabiamente por Mário de Andrade é o jogo com os sons, evidenciados pelas conjecturas do uso das três vogais em grupo AAA ao descrever a cidade de São Paulo além de multiplicação sugestiva de determinadas palavras (a exemplo de muiraquitã e icamiabas) trazendo para analise intertextual autores como os citados no inicio desta resenha.
       Por fim evidencia–se que a autora faz uma espécie de defesa de Mário de Andrade, e através da exploração de trechos da carta, assim como ao construir diálogos com outras obras do dito autor e autores outros, deixa transparecer a riqueza de recursos e a intencionalidade nacionalista ao priorizar o recurso lingüístico como elemento dinâmico e constituidor de identidade cultural.

Apanhado geral por tópicos

  1. O entendimento da A Carta pras Icamiabas só pode ser compreendida se não desvincula do corpo da obra Macunaíma: o herói sem nenhum caráter;
  2. Exposição do olhar de outros autores sobre o autor Mário de Andrade e seu personagem Macunaíma;
  3. As obras a que recorre ao construir o capítulo, bem como o livro Macunaíma: o herói sem nenhum caráter;
  4. As múltiplas possibilidades de leitura interpretativas construídas a partir de A carta pras Icamiabas;
  5. A diversidade de recursos utilizados pelo autor retratado de modo claro e citando nos trechos da referida obra;
  6. O uso da Carta de Pero Vaz de Caminha como elemento norteador de uma leitura a contrapelo constituída a partir de elementos inexistente na sociedade indígena (cultura européia – língua e dinheiro) a qual pertence o herói Macunaíma e utilizados para transmitir a rapsódia e a sátira que deseja expor o autor.

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