quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Um território: notas sobre o Sul da Bahia.

Um território: notas sobre o Sul da Bahia. 

José Maurício Arruti, doutor em antropologia, sócio de KOINONIA.
Carla Siqueira Campos, pesquisadora e mestra em antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco.



O Baixo Sul da Bahia é uma região formada por  diversas comunidades negras rurais e caiçaras que  mantém diversos laços entre si, de parentesco, de  colaboração e aliança, religiosos, culturais e produtivos. Dentre esses laços, porém, os de parentesco  ainda são os mais importantes na construção de um  sentimento de identidade comum, capaz de superar os obstáculos das distâncias e das diferenças políticas, trabalhando para a preservação e renovação  de uma memória coletiva comum.  
Camamu, Marau, Igrapiúna e Ituberá compõem  a chamada Baía de Camamu, localizada na microrregião de Valença. Nesta região é comum localizarmos comunidades com nomes indígenas e africanos  que reforçam e documentam as fontes históricas e  narrativas locais que falam da presença de grupos  indígenas e de negros fugidos por toda a região. De  fato, as comunidades locais afirmam terem origem  ainda no período da escravidão e descenderem de alguns destes grupos, tanto negros quanto indígenas.  Sr. Domingos, liderança da associação comunitária  de Garcia e do Sindicato de Trabalhadores de Camamu conta que as festas religiosas contribuíram por  muito tempo para a manutenção do vínculo entre as  comunidades, mas o desinteresse dos jovens por tais  festas comunitárias, preferindo os bailes no centro da cidade, tem reduzido a intensidade destes laços.   
Comunidades certificadas pela FCP no município de Camamu e data da publicação
Acarai - 5/03/2008
Barroso - 05/03/2008
Garcia - 05/03/2008
Pedra Rasa - 05/03/2008                                                                       
Porto do Campo - 05/03/2008               
Pratigi - 05/03/2008                                                                                 
Ronco - 05/03/2008                                                                             
Tapuia - 05/03/2008                                                                                 
Jetimana- 13/03/2008                                                                              
Pimenteira - 10/04/2008                                                                           
Desde 2005 essas comunidades, dos municípios  de Valença, Cairu, Taperoá, Nilo Peçanha, Ituberá,  Igrapiúna, Camamu e Marau vêm sendo certificadas  como comunidades quilombolas pela Fundação  Cultural Palmares (FCP): quatro em 2005, nove em  2006, quatro em 2007 e, até o momento, 15 em  2008. Destas últimas 15, dez estão localizadas no  município de Camamu.
[...]
Menos de 10% das comunidades certificadas no  estado tiveram abertos processos de regularização no Incra e nenhuma delas na região. Apesar de não  existirem ainda conflitos flagrantes ou violentos,  toda a região é foco de especulação imobiliária,  promovida pela expansão do turismo, que ameaça  se estender sobre as terras destas comunidades. Algumas dessas praias, como a própria Itacaré e  Morro de São Paulo, são destinos famosos de um  turismo elitizado, que contam com aeroportos e  diversos hotéis luxuosos.


FonteARRUTI, José Maurício e CAMPOS, Carla Siqueira. Um território: notas sobre o Sul da Bahia. Boletim Territórios Negros (v.8, n.34, maio/ jun. 2008). Disponível em: Acesso: 07.01.2017

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